José Teixeira Bonifácio
Dados pessoais, infância, escolaridade
Chamo-me José Teixeira Bonifácio, nasci a 23 de Abril de 1922, na
Circunvalação, Porto. O meu pai era José Teixeira Bonifácio, era tintureiro na
Fábrica dos Carrinhos, onde ganhava 12$50 por dia. O meu pai não sabia ler
nem escrever, fui eu que lhe ensinei a escrever o nome. A minha mãe,
Emília Tomásia Pereira da Silva, era doméstica mas tinha ocasiões em que vendia
peixe. No Inverno havia o período das traineiras encostarem, durante 3 meses.
Nessa altura não havia peixe. Os meus pais parece que tiveram 12 filhos, mas
alguns morreram com a meningite. Eu era o mais velho. Havia muita fome mas
a minha avó vivia melhor. Eu era o menino da minha falecida avó, e então eu ia
para lá, comia lá e depois ia para a casa dos meus pais para dormir. Eu fui
melhor alimentado que os meus irmãos, mas depois ela morreu, tinha eu mais
ou menos 18 anos. Também tive brinquedos, porque a minha mãe também
lavava roupa para as senhoras da Foz. Eram essas senhoras que me davam
os brinquedos, muito bons e muito bonitos. Jogava ao arco, à bola, ao pião, à
barra; as miúdas era à macaca e á corda. Muitas vezes ia aos campos buscar
couves, abóboras... para os coelhos. Ia sempre a campos diferentes, para não
se notar muito. Aos fins-de-semana eu tinha um fato único para usar, de cutim,
que parecia fazenda. O meu fato era preto com um traço branco. Com ele
usava umas sapatilhas, boné, gravata e uns colarinhos postiços.
Quando eu era rapaz, eu vinha aqui ao Estádio do Bessa, ao cinema.
Sentávamo-nos na terra. Ou então ia ao adro da igreja de Matosinhos. Nós
escolhíamos, onde houvesse um filme bom nós íamos, ou ao Bessa, ou a
Matosinhos.
Actividade Profissional
Fui trabalhar com 9 anos. Fiz a 3ª classe e, como éramos muito pobres,
quando eu vim nas férias grandes, o meu pai pediu para eu ir para a Fábrica dos Carrinhos,
a EFANOR, à açouga dos bois, a acartar a escoura que saía
das caldeiras para aquela Avenida onde está hoje a Igreja Nova. Eu fui para lá
precisamente nos meses de calor, e os bois que puxavam o carro ganhavam
umas jugueiras, e fazia aquele cachaço muito inchado e os bichos não podiam.
Tinham mais dificuldade para puxar o carro e, então, nós trabalhávamos de
noite, desde a meia-noite às 8 da manhã, 6 dias por semana. Quando chegou a
altura de me matricular na escola o meu pai disse que eu depois fazia o exame
na escola nocturna. Naquela altura havia escolas nocturnas para os moços da lavoura.
Mas eu nunca fui. Já vinham uns tostõesitos, parece que era 3$00 por
dia.
Nessa altura lembro-me de ter ido à Exposição Colonial, com uns bilhetes que
ofereceram na Fábrica dos Carrinhos. Vinham pessoas de Angola, de
Moçambique, da Guiné, de Timor...Veio a Rosita, que era a preta mais bonita,
havia umas ilhotas com palhotas onde viviam o casal e um ou dois filhos...
Entretanto fui para alfaiate. Mas o senhor Queirós, o dono da alfaiataria, dizia-
me para ir lavar o aido dos porcos. Eu sujava-me todo. Comecei a não gostar
mas ia trabalhando. Até que o meu falecido pai pediu a um primo meu que era
forrador de papel. Aí andei uns 4 ou 5 anos, mas ele dava-me porrada que era
uma coisa por demais. Até que um dia virei-me a ele e vim-me embora.
Depois fui trabalhar para a construção civil. Fui para a obra do Pinheiro Manso.
Lá andei e andei ainda bastante tempo. Acabou-se aquela obra e fui para outra
e tal. O mestre batia-me, e de que maneira! Era com um sarrafo. Havia um
oficial no Largo de Pereiró, que quando queria qualquer peça de ferramenta
batia com o coisa e eu tinha de adivinhar qual era a ferramenta que ele
precisava. Se não acertava levava sarrafada. No Inverno, trabalhar de trolha
era uma crise tremenda, não havia trabalho.
Depois fui para estivador, para Leixões, descarregar navios de carvão para
camionetas ou camiões. Ganhava nessa altura mais que o meu falecido pai,
ganhava 22$. Mas trabalhava como um preto e é que eu saía de lá mesmo
preto quando andava a descarregar carvão.
Depois fui trabalhar para uma fundição, a Oliveira & Ferreirinha. Eu era
metalizador, tinha de preparar aqueles tês, joelhos,... Era uma profissão que
não prestava, queimava a gente todo. A gente ficava com a pele amarela, toda
queimada, a roupa também, acabava por cair aos bocados. Ninguém tinha
Segurança Social, ninguém fazia descontos nem nada disso. Passado 3 anos
tornei a ir para a Fábrica dos Carrinhos, a acartar fio do armazém para a
tinturaria, para tingir fio nas cores que eram pedidas. Depois saí da Fábrica dos Carrinhos
e andei outra vez a trolha. Trabalhei na construção do Quartel de Infantaria 6
e do Mercado de Matosinhos como estucador. Depois fui para a
construção da EFACEC, como trolha. Foi nessa altura que arranjei a ficar a
trabalhar na EFACEC, a trabalhar nas máquinas, como titular de balancés. Aqui
já ganhava mais um bocadinho: havia um prémio de produção, um de
antiguidade, um de assiduidade... Também tinha férias remuneradas e as
horas extra eram bem pagas. Já havia contrato colectivo de trabalho. Os
trabalhadores eram todos maiores de 14 anos e os capatazes não batiam em
ninguém. Foi nesta altura que saiu uma Lei que dizia que quem não tivesse a
4ª classe não podia trabalhar. Foi por isso que eu voltei a estudar para terminar
o exame da 4ª classe. Devíamos andar pelos anos 50.
A EFACEC para mim foi uma grande empresa, não hajam dúvidas, foi ali que eu
melhorei a minha situação. Os aumentos naquela altura eram de 1 tostão a 10
tostões. Só uma vez é que eu tive 6 tostões. Foi-me dado por um engenheiro
espanhol. Mas tive muitas chatices na fábrica, principalmente com o meu chefe
directo, que era um fascista tremendo. Uma ocasião eu levei para lá uns papéis
a mobilizar para o 1º de Maio. Uma senhora pediu-me um papel e sentou-se a
lê-lo. O chefe viu-a a ler o papel, tirou-lho e disse que ia apresentar queixa ao
engenheiro. Eu fui com ele ter com o engenheiro, que me defendeu e, só em
particular, me pediu para não levar mais papéis. Claro que eu continuei a levar.
Eu casei com 21 anos, com a Albina. A nossa primeira casa só tinha um
quartinho muito pequenino, cabia só a cama e uma mesinha de cabeceira, e
uma cozinha estreitinha. Era numa ilha, mas daquelas abarracadas. A casa de
banho era comum. O meu chuveiro era um regador. A luz era a petróleo e a
água, do poço. Mas depois fui para outra ainda pior, com uma cozinha muito
estreitinha e uma sala e quarto comuns. Eu saí de lá porque era coberta por
uma placa em cimento e no Inverno chovia dentro. Eu tenho 6 filhos. Quando a
minha primeira filha nasceu, logo no primeiro ano de casamento, quem tomava
conta dela era a minha sogra, porque ,morávamos na mesma ilha. Mas o outro
filho a seguir já teve de ir para uma ama. Nós tínhamos um bocadinho de
quintal, onde plantava alguma coisa e criava uns coelhos. Dava muito trabalho
mas era uma ajuda, para comer. Dois dos meus filhos estiveram na Guerra Colonial,
um em Moçambique e outro em Angola. Mas não tiveram problemas
porque eram da polícia aérea. Eu encarei a coisa mais ou menos, mas a minha
mulher cuidado...andava sempre sobressaltada.
Actividade Social e Política
Foi na Fábrica dos Carrinhos que comecei as minhas actividades políticas. Nós
éramos 4 pessoas a comer numa mesa, que era eu e o meu pai, e era um
casal. Eu devia ter 20, 21 anos. Foi precisamente em 1943 que eu me liguei ao
Partido Comunista, por intermédio desse casal. Pagava 5 tostões de quota.
Eles conversavam muito sobre a situação e começaram a dar-me o Avante! Só
aí, através do jornal, é que eu comecei a saber que havia pessoas presas. Tive
várias tarefas no Partido. Geralmente estive ligado aos fundos, mas também
estive ligado ao recrutamento, mas o recrutamento era muito difícil naquele
tempo, porque aí é que corríamos riscos. Para fazer os folhetos nós íamos para
uma casa que estava abandonada num terreno ali em S.Gens, na Rua de Abilhó.
Tínhamos um candeeiro, tínhamos um fogãozinho, para fazer café,
porque era na altura do 31 de Janeiro, era muito frio. Levávamos um copiador,
ou copiógrafo, que era uma pedra de mármore, dava-se aquela tinta preta que
vinha numa bisnaga assim comprida, e a gente com um rolo espalhava. Depois
estendia-se o stencil, depois metia-se uma folha de papel, passávamos com o
rolo, e tirávamos. Saía limpinho. Tirávamos uma ou duas resmas de folhas A4.
Depois, cada um de nós levava um sobretudo onde escondia uma quantidade
de folhas e íamos distribuir, cada um com um destino marcado. No fim, casa.
Chegávamos à hora de ir trabalhar, lavávamos a cara, tomávamos uma pinga
de café e íamos trabalhar. Uma ocasião fizemos um folheto para convidar a
malta para o dia 31 de Janeiro, na Praça. A primeira vez que fui preso foi em 1945, por alturas do Carnaval. Fiquei lá
cerca de 3 meses. Juntamente comigo, foram mais 3 presos da Fábrica dos Carrinhos:
o Abílio Pacão, o João Coelho, o Alberto Praça. Eles foram presos
primeiro e depois fui eu abordado por dois gajos da PIDE, na fábrica. Dali
levaram-me ao escritório, onde o engenheiro me defendeu, dizendo que eu era
bom operário. Mas eles disseram que só me levavam para fazer umas
perguntas, por um ou dois dias. Depois levaram-me a casa e daí para a PIDE,
onde é agora o Museu Militar. Nesse dia fui logo chamado para interrogatórios.
Parece que nesse dia não me bateram, mas de vez em quando amachucavam-
nos bem o pêlo. Nessa noite meteram-me no segredo, que era uma cela
escura, muito pequenina, com uma tarimba em madeira e uma manta. O tecto
era o vão da escada. Não conseguia dormir, porque era a noite toda a ouvir
passos a subir e a descer as escadas. Era um barulho tremendo. A gente sabia
quando era dia pelo sino do cemitério. Apenas havia uma lâmpada a meio, que
só era acesa quando me traziam a lata da comida, que era uma coisa em folha
com uma colher de pau. Não tínhamos quarto de banho, tínhamos um balde,
dentro da cela. Nos interrogatórios eles perguntavam-me muitos nomes. Eu
não sabia, e levava porrada. Tinham muito empenho em saber do Malhado,
que pelos vistos tinha uma mancha vermelha na cara. Às vezes tinha de pôr as
mãos em cima do rebordo da mesa, e eles, de vez em quando, davam uma
vergastada com um cavalo marinho curtinho. Pisavam-me as mãos todas. Se
eu deixava cair as mãos para baixo eles dava-nos porrada de outra maneira.
Costumava estar um velho a escrever o que eu dizia à máquina, e mais dois
gajos por trás de mim. Era murros de um lado, murros do outro, calcadelas...
era assim. Mas havia quem passasse coisa muito pior.
O Castela apanhou com o "Estaline", os pides chamavam-lhe o "Estaline", que
era um chicote de 7 rabos com bolinhas de chumbo nas pontas.
Mas nós tínhamos um livrinho pequenino que o Partido nos dava, era o "Se
Fores Preso Camarada", que nos dizia sobre a forma de proceder nos
interrogatórios. E por isso é que me safei. Eles ameaçavam que me mandavam
para o cemitério, que faziam, que aconteciam...
Depois passaram-me para as salas. Havia 4: a A, a B, a C e a D. Eu fui para a
A. Continuávamos incomunicáveis, mas já éramos vários dentro da mesma
sala. Não podíamos ter jornais, nem leitura de tipo nenhum. A minha mulher
costumava mandar-me roupa lavada duas vezes por semana e começou a
enviar-me bilhetinhos escritos dentro do pão, debaixo da carcaça. E eu
comecei a descoser os fundilhos das cuecas para esconder aí os papéisinhos
que lhe escrevia. Arranjava os papéisinhos dos maços de Português Suave e
com um palito, molhado em sangue de percevejo, lá ia escrevendo algumas
coisas. Isto porque havia alguns que passavam mensagens nas onças de
tabaco, mas os pides descobriram e começaram a abrir as onças. Comigo
nunca me aconteceu de eles caçarem nada.
Aquele era o período mais vivo dos combates na II Guerra Mundial, em
1945, que foi quando ela terminou. Nós, dentro da sala tínhamos uma mesa
muito comprida que dava para umas 20 pessoas. Quando os faxinas, que eram
presos como nós, nos iam levar a comida, arranjavam maneira de nos passar o
jornal, e nós andávamos sempre informados. Lembro-me perfeitamente dos
mapas dos campos de batalha. Aprendia-se lá muito. Estávamos todos ali a
estudar o avanço das forças soviéticas, e chegámos a ficar entusiasmados com
o avanço rápido que elas fizeram. Usávamos umas bandeirinhas e íamos
assinalando os avanços que pensávamos que eles iam dar, até ao dia
seguinte. Nunca nos apanharam os jornais porque, nas casas de banho, as
retretes à caçador tinham comunicação da sala A para a B. Quando vinham
fazer revista à sala nós passávamos o que tínhamos para a Sala B, que eram
jornais, às vezes livros, e outras coisas.
A Albina ia-me ver ao parlatório, que era uma sala comprida com uma rede a
vedar. Elas agarravam-se à rede a falar para nós e entre nós e elas havia um
espaço que era onde andava um pide. A gente não podia dizer nada de
importante.
Havia um refeitório, junto aos quartos de banho, a Casa del Campo, que,
diziam-nos as pessoas mais antigas, tinha sido a casa onde eles espancavam
as pessoas. Tinha uma traves por cima, em castanho, grossas, onde dizem
que havia manchas de sangue.
Um dia chamaram-nos, a uns 14 ou 17 de uma vez, ao gabinete do Silva Pais e
fomos postos em liberdade. A Albina tinha saído pouco tempo antes, porque
tinha-me ido visitar. Então, eu fui para o Largo de Soares dos Reis e apanhei
um eléctrico para ver se a apanhava. Quando a vi lancei-me para o chão, e
viemos os dois a pé, para casa.
Depois disso voltamos a trabalhar na Fábrica dos Carrinhos, todos os quatro
que tínhamos sido presos. Cinco anos depois voltei a ser preso, por denúncia. Foi em 1950, no dia
seguinte à morte do corredor de motas, o Jaime Campos, e estive lá 6 meses.
Foram-me buscar a casa, às 5 horas da manhã. Eu já estava a contar ser
preso e, quando a Albina me disse que estava ali a polícia, tentei fugir pela
porta das traseiras mas já estava lá um gajo muito grande. Voltei a fugir para o
quarto e tentei esconder-me debaixo de uma cadeira, mas encontraram-me.
Ainda me quis despedir da minha mulher e da minha filha mas eles não
deixaram. Fui na viúvinha, para PIDE.
Só saí com o pagamento de fiança, de 25 contos, e duas testemunhas
abonatórias, que foram a mãe do Dr. Carlos Cal Brandão e o Dr. Ramos de Almeida.
Foi a Albina quem tratou de tudo e pagou a fiança.
Aqui do Padrão da Légua, fomos vários presos: o Silveira ,dono da Farmácia, o
António, sapateiro, o Fernando Amaral barbeiro, o Espírito Santo e o Nelson.
Mas o Espírito Santo saiu muito antes de todos os outros. Esta segunda prisão
foi pior, porque eu já era reincidente.
Depois de ser paga a fiança, fui chamado e disseram-me que tinha um
mandato de soltura mas não me podia ir embora, porque tinham uma denuncia
que dizia que era eu o responsável político da Fábrica das Químicas da Fonte Moreira.
E era mesmo, mas neguei logo. Disseram-me então para me
apresentar no dia seguinte, com o Espírito Santo na PIDE, para prestar
declarações. Eu saí, arranjei maneira de me encontrar com o Espírito Santo e
avisei-o para pensar no nome de um morto, para dizer à PIDE. No dia seguinte
apresentei-me, e o Pinto Soares mandou-me embora porque já lá tinha estado
o Espírito Santo.
Depois fui a julgamento, o meu advogado era o Dr. António Ramos de Almeida.
Eu fui condenado a 2 anos de prisão mas só fiquei uns dias, porque depois
veio uma amnistia e viemos embora. Eu e a Albina íamos a muitos comícios juntos. Em todos os comícios havia
representantes das autoridades. Quantos e quantos foram cancelados...
Lembro-me do comício no Teatro Vitória, em Rio Tinto, onde foi espancado o
Rui Luís Gomes, a Virgínia Moura, o Lobão Vital, e a gente também levou,
levou pela marca do seguro. Eu por acaso safei-me porque vinha naquela
levada precisamente quando a polícia entrou.
Eu só votei uma vez, antes do 25 de Abril. Eu tinha problemas porque não me
deixavam recensear. Mas dessa vez o escrivão da Junta, que era o sr.
Almeida, disse-me assim "Ó Bonifácio eu vou-te recensear mas não te garanto
que passes pá!". Nas eleições do Humberto Delgado eu fui votar, e foi
precisamente nessas que nós tivemos a greve, foi pela burla eleitoral. As
eleições foram no dia 8 de Junho de 1958 e 15 dias mais tarde o Dr. Ruela foi
preso. Na 2ª feira o pessoal da Fábrica dos Carrinhos entrou em greve e a
notícia rapidamente chegou à EFACEC. Fomos convidados pelo Eng. Guilherme Rica
a ir à cantina para discutirmos e quando chegamos aí a malta não esteve
com meias medidas. O Aragão, que devia ser um dos principais, levantou a voz
e fomos em frente. Prontos e a coisa começou assim. Fomos à Leonesa, onde
a GNR já agia à bastonada. Acabamos por perceber que estávamos isolados.
Quer-se dizer, nós fizemos aquilo a pensar que os outros se juntavam, mas
eles falharam. No dia seguinte apareceu uma chapa nos portões a dizer que a
fábrica estava encerrada. A greve foi no dia 23 de Junho, com intenção de
irmos para o S.João e no dia seguinte virmos trabalhar, mas a fábrica esteve
encerrada até ao dia 22 de Julho. Entretanto, o Eng. António foi obrigado a sair,
como condição para a reabertura da fábrica. Durante esse mês alguns
engenheiros da direcção organizaram-se e distribuíam algum dinheiro a alguns
trabalhadores. Não davam a todos. Eu também fui chamado para receber.
Eram 100 paus, eu não queria receber porque estava a trabalhar de trolha
durante esse período, mas eles insistiram.
Uns dias depois a PIDE começou a fazer prisões, e apareceu com a viuvinha
numa tasca, no Monte da Mina, onde nos encontrávamos todos. Fugiram todos
mas eu não. Para dizer que também apareceu lá o meu nome mas não fui
chamado. Durante o encerramento foram presos 13 colegas. Entretanto,
quando o Engenheiro António Rica resolveu ir embora, a fábrica reabriu.
Mas esta greve não foi a única forma de luta. Uma ocasião reuni com uma
quantidade de malta e fomos pedir 5 escudos de aumento. Nem todos os
trabalhadores assinaram o pedido mas chegamos a ser aumentados. Lá não
havia comissão de trabalhadores, quando a malta entendesse resolvíamos
quem ia tratar das coisas. As comissões de trabalhadores começaram depois
do 25 de Abril.
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