Esmeralda Joaquina Faria Mendes
Dados pessoais, infância, escolaridade
Chamo-me Esmeralda Joaquina Faria Mendes e nasci no Porto a 16 de Fevereiro de 1922,
na freguesia do Bonfim. O meu pai era do Porto e a minha mãe
de Famalicão. O meu pai era serralheiro e trabalhava na Fábrica das Antas e a minha
mãe era costureira de camisas, trabalhava num atelier na Rua do Bonjardim. Tive
um irmão e uma irmã, mas ela morreu antes de eu nascer e o outro morreu ainda
miúdo.
Eu estudei até à 4ª classe, o meu pai também devia ter a 4ª classe, mas era
um homem muito inteligente, até lhe chamavam o "Manuel dos livros" e a minha mãe
aprendeu por ela própria a ler e a escrever. A minha mãe trabalhava, mas nunca me
faltou nada. Ela ia para o trabalho que era ali quem vem da Rua de São Crispim, que
ela de costureira passou para perfumista numa fábrica de perfumes que existia ali. O
meu pai continuou como serralheiro, mas depois chegou a um ponto que deixou de
trabalhar. Desistiu de trabalhar assim, coitado, talvez por saúde. Ele era muito boa
pessoa, era uma jóia de um pai.
Até aos 13 anos morei nas Antas, depois a minha mãe foi morar para a
Areosa e eu como não gostava daquilo fiquei nas Antas, na mesma casa dos meus
tios e depois fui trabalhar para a Confeitaria Vilares com 14 anos.
Casei com 19 anos e tive o meu filho com 19 anos também, mas já casada. Quando casei fui morar para a Rua Guedes de Azevedo, para casa da minha
mãe que já lá vivia. Depois a Câmara deitou aquelas casas todas abaixo, aqueles
bairros todos que havia por ali, aquilo tudo, que era ao pé daquela capelinha de Fradelos
que eu morava, e viemos para o Bairro do Bom Sucesso, em 1958,
viemos inaugurar, mas não fui a primeira. Viemos escolher a casa, mas para aqui
vinha pouca gente, só vinha assim uma gente um bocadinho mais... os outros iam
para mais longe.
O meu marido emigrou para o Brasil em 1951; já tinha tido cinco filhos mas fiquei com
quatro, porque morreu-me uma filhinha. O pai do meu marido era muito rico e a
minha sogra, quando o pai dele faleceu levou-o ao Brasil, para receber uma
herança. Mas os outros nunca mais se resolveram a vender o que havia e o moço lá
ficou. Durante dois anos escreveu sempre, mandava o que podia coisa, mandava
dinheiro que chegasse para os miúdos e para mim. Depois acabou. Mas ele era
muito boa pessoa, era um pai e um marido extremoso.
Actividade Profissional
Quando fui trabalhar para a Confeitaria Vilares comecei por encher farinhas,
pacotinhos de farinha, empacotar rebuçados, o que houvesse, diversas coisas.
Comecei por ganhar quatro escudos por dia, era vinte e quatro escudos ao fim da
semana. Depois comecei a fazer mais coisas, trabalhava no balcão quando era
necessário, quando havia muita coisa trabalhava no armazém, para o final já fazia as
facturas. Vinha a pé trabalhar, por Costa Cabral toda, Santa Catarina, ... Entrava às 8
horas e saía às 18 horas. Tinha uma hora para o almoço. Não tinha contrato, não
tinha férias, mas naquela altura quem falava nisso? Não tínhamos nada, se
estivesse doente faltava mas não ganhava. Mas, um dia nós tivemos lá um patrão,
um patrão que era um Vilares mesmo, e que todas as semanas ia lá fazer uma
consulta ao pessoal. Eu já nessa altura tinha feito tratamento a um pulmão e tinha
sido operada, e ele é que me perguntou se eu estava lá há tantos anos e não tinha
Caixa. Eu disse que "não, senhor doutor". Passado uns dias chamaram-me ao
escritório a perguntar se eu tinha dito que não tinha Caixa e tal. Eu respondi que se
eu quisesse ir a um médico faltava meio dia e eles não me pagavam, eu também
tinha muita confiança com eles. Então mandaram-me ir ao escritório ver o quadro.
Era o quadro do pessoal, eu estava no quadro, mas, nos princípios, não estava em
quadro nenhum. Não tinha contrato se não hoje tinha uma reforma grande.
Tive poucos anos de Caixa, oito. Quando veio aquela lei que tinha de ter dez
anos se quisesse ter a reforma, eu trabalhei dois anos, lá à minha beira, no Bom Sucesso,
numa fábrica de camisas, para poder ter a reforma aos dez.
Trabalhei muitos anos na Vilares, até que quando saí ganhava 20$00. Mas, já
saí há muitos anos.
Eu vim embora quando a Confeitaria Vilares passou a supermercado. Viemos
embora para obras e chamaram-me para trabalhar quando aquilo estava pronto,
porque eu era uma das pessoas que sabia mais ou menos de tudo, onde estavam
as toalhas, onde estavam os talheres, iam fazer lá uma recepçãozinha qualquer e
chamaram-me. Já tinha lá ido, já me tinham dado o postal para eu ir trabalhar, mas
na altura em que me mandaram o postal eu não podia ir porque tinha que fazer uma
radiografia nesse dia de manhã, porque nós nunca viemos embora, nunca fomos
despedidas e eu telefonei para lá e quem veio ao telefone foi um senhor que estava
lá há dois dias, praticamente, e eu disse-lhe que não podia ir e ele queria que eu
fosse, mas eu não podia. À tarde fui lá, mas o meu patrão estava em reunião e o
meu filho disse-me que eu já não ia trabalhar nada, que não ia trabalhar mais,
pronto. Que quem me tratava assim não merecia que eu fosse trabalhar. E foi assim.
Depois reformei-me por invalidez, por causa das artroses.
Eu era muito querida lá na confeitaria e tinha lá um engenheiro que
foi ele que me arranjou a vir para aqui; nessa altura o meu filho já era bancário, o
mais velho.
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