Júlio Alves Corujeira da Silva
Dados pessoais, infância, escolaridade
Chamo-me Júlio Alves Corujeira da Silva, e nasci a 20 de Novembro de 1931,
em Lordelo do Ouro.
Tenho dois filhos, professores de Educação Física, e dançarinos no Rancho da
Universidade do Porto. Um tem 45 anos e o outro tem 47.
Estiva na escola até aos 10 anos, aqui nas Condominhas. A minha mãe tinha
enlouquecido e teve de ser internada no Conde Ferreira, por isso vivia com
uma tia. Quando chegava a casa da escola, a minha tia mandava-me ir buscar
lenha para o fogão, e tinha de ir buscar água ao fontanário. De manhã, lá para
as 2 horas da madrugada, tinha que ir para a bicha do pão. À noite, o meu pai
vinha ao meu quarto jogar damas ou xadrez e, às vezes ia aprender a tocar
viola com o senhor Rebelo, o professor. Lá para as 9 horas a polícia já não
deixava tocar. Lá em, casa tínhamos um quintal onde cultivávamos umas
batatas, umas cebolas, muita coisa, para comer. Não tinha tempo para nada.
Aos 16 anos o meu pai tuberculizou e teve de ir para o Sanatório D. Manuel II,
o Semide, e a minha mãe piorou e teve de começar tratamentos de electro-
choques. A minha mãe acabou por falecer, mas o meu pai melhorou e voltou a
casar.
Actividade Profissional
e nós éramos o outro
grupo, que não concordávamos.
Por fim houve lá uma desordem, que foram 17 suspensos. Não se entendiam
uns com os outros, de maneira que reuni com a administração e fui tirar as
fichas desses 17, até hoje. Depois a coisa melhorou e a fábrica retoma a
normalidade em 1976, 1977.
Quando veio a proposta das garrafas de gás foi necessário admitir mais 220 e
tal trabalhadores. E então pedimos ajuda às Juntas, se conheciam pessoas
desempregadas e com um certo coiso e tal... porque para o pessoal das Juntas
essa coisa dos comunistas também era um bocado assustador, não é?
Pedimos indiferenciados, e depois dávamos apoio e formação no local, com a
ajuda dos trabalhadores mais experientes.
Quando começámos com o fabrico de garrafas fazíamos cerca de 100 por
semana, ou por mês, ou seria 200 garrafas por mês, e depois passamos a
produzir cerca de 1200 garrafas por mês. Foi por isso que aumentamos tanto o
pessoal. A produção era dequada às necessidades do mercado. Quando as
empresas diziam para não se fazer, então mandávamos pessoal embora,
ficávamos só com pessoal limitado para fazer "x". Reduzimos para 500, isto já
nos anos 80. Depois tornámos a admitir mais ou menos aqueles que eram
bons. Mas a fábrica dava uma indemnização a esses que iam embora. Esse
Don Tirso era uma pessoa espectacular, dava sempre uma lembrança em
dinheiro para ver se entretanto eles tinham tempo de arranjar trabalho noutros
lados. Entretanto depois tornava a admitir novamente os mesmos, ele tinha os
telefones ali todos prontinhos, e eles gostavam muito de trabalhar lá, porque
trabalhava-se à vontade e ganhava-se bem. Nos anos 80 já se ganhava à volta
de 80$, 90$ por dia. Mas nem todos ganhavam o mesmo ordenado, eu
ganhava 4 contos e tal por mês.
Quando mudámos a produção para as garrafas, a profissão dominante lá na
fábrica passou a ser o soldador. Havia 3 tipos de soldadura: a soldadura em
arco, à mão com eléctrodos, e soldadura quando se trabalhava numa máquina
que soldava a garrafa ao meio.
Depois de eu fazer 65 anos de casa, eles mudaram a fábrica para Guimarães:
lá é a Petróleos Mecânicos Alfa. Eles queriam que eu fosse mas eu não fui. Lá
já fazem 12.000 garrafas por dia, porque são eles que fornecem o mundo
inteiro. A maior parte dos trabalhadores aqui do Porto foram trabalhar para
Guimarães, têm duas camionetas que os vêm buscar aqui às Condominhas:
uma é às 7h15 e a outra às 8h. Só têm um turno de trabalho, mas as
camionetas têm horários diferentes porque uma é para os operários e outra
para os empregados de escritório, consoantes os horários deles. Lá devem ter
cerca de 400 trabalhadores.
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