António Augusto Ferreira
Dados pessoais, infância, escolaridade
O meu nome é António Augusto Ferreira?expr=António+Augusto+Ferreira'>António Augusto Ferreira e nasci a 14 de Novembro de 1917?expr=Novembro+1917'>14 de Novembro de 1917, em Sobrado?expr=Sobrado'>Sobrado,
Castelo de Paiva?expr=Castelo+Paiva'>Castelo de Paiva. Os meus pais também eram de Castelo de Paiva?expr=Castelo+Paiva'>Castelo de Paiva, ele era comerciante?expr=comerciante'>comerciante e
ela empregada?expr=empregada'>empregada de uma fábrica de manteiga. Eu era o filho mais velho, mas ainda tinha
mais 5 irmãos.
Fiz a 3ª classe. O professor?expr=professor'>professor da 1ª e 2ª classes era o meu tio, que depois se reformou e
deu o lugar a uma professora?expr=professora'>professora. No meu tempo a escola era melhor do que é agora:
aprendia-se mais, na 2ª classe eu já tinha Geografia. Agora, as pessoas saem da escola
e nem sabem fazer uma conta de dividir. Os professores?expr=professores'>professores eram bons, mas às vezes lá
tinham de usar a palmatória, com 5 buraquinhos. Eu nunca apanhei com a palmatória. A
escola funcionava das 8h00 às 17h00.
Eu não brincava, sempre pensei em ter uma formação e a formação não pode ser para
brincar. Às vezes a gente queria comer e não tinha, era muito custoso. E quem não
trabalhasse não comia, e o pai e a mãe não duram sempre!
Todos os meus irmãos estudaram até à 3ª classe, e depois também foram trabalhar. Tive
dois irmãos que emigraram. Uma foi para França?expr=França'>França e outro para a Alemanha?expr=Alemanha'>Alemanha.
Quando acabei a 3ª classe fui fazendo sempre alguma coisa: consertava bicicletas e
outras coisas mais. O que eu não queria era ir para as minas!
Casei em Março de 1946?expr=Março+1946'>Março de 1946, em Castelo de Paiva?expr=Castelo+Paiva'>Castelo de Paiva, já vivia com a minha mulher há 2 anos na
Travessa do Campo 24 de Agosto?expr=Travessa+Campo+Agosto'>Travessa do Campo 24 de Agosto, e já tínhamos dois filhos. A minha mulher é do Porto?expr=Porto'>Porto,
era costureira?expr=costureira'>costureira numa fábrica ao lado do Palladium?expr=Palladium'>Palladium, e vivia na mesma rua da pensão onde
eu morava. Cheguei a namorar com duas: a Ana Rosa Ferreira?expr=Ana+Rosa+Ferreira'>Ana Rosa Ferreira e a Ana Rosa da Rocha?expr=Ana+Rosa+Rocha'>Ana Rosa da Rocha,
que é a minha mulher.
Tivemos 10 filhos, morreram 2 ainda crianças de interite, ficaram 8 ainda hoje vivos.
Estudaram todos até à 4ª classe e depois foram trabalhar, já se sabe que quem tem
muitos filhos é pobre. Três deles ainda chegaram a ir para a Guerra Colonial?expr=Guerra+Colonial'>Guerra Colonial. Hoje em dia,
um é chefe na Efacec?expr=Efacec'>Efacec, um outro já está aposentado, outro está na Alemanha?expr=Alemanha'>Alemanha, uma está
casada com um rapaz empregado nos Produtos Estrela?expr=Produtos+Estrela'>Produtos Estrela, outra cujo marido trabalha nos
produtos farmacêuticos,... Estão todos mais ou menos bem. Deles, já tenho netos e até
bisnetos.
Entretanto tive uma trombose e fiquei paralisado numa parte do corpo.
Actividade Profissional
Naquela altura Castelo de Paiva?expr=Castelo+Paiva'>Castelo de Paiva não tinha indústria, só tinha as Minas do Pejão?expr=Minas+Pejão'>Minas do Pejão. O meu
irmão não arranjou trabalho, por isso tive de procurar eu. Um dia disse ao Sr. Pinto?expr=Pinto'>Pinto, o
dono das camionetas, que queria vir para o Porto?expr=Porto'>Porto, e, se conseguisse arranjar emprego,
depois lhe pagava a viagem. Um Sábado à noite veio-me chamar, tinha arranjado uma
vaga para eu vir.
Vim sozinho, com 17 anos, e a primeira coisa que fiz, quando chegamos à Batalha?expr=Batalha'>Batalha, foi
entrar no 410, que era um café.
Fiquei hospedado em casa de um tio meu e, com a ajuda dele, arranjei trabalho na Fábrica
dos Tintos e Acabamentos?expr=Fábrica+dos+Tintos+Acabamentos'>Fábrica
dos Tintos e Acabamentos, no Carvalhido?expr=Carvalhido'>Carvalhido. Era aprendiz de tintureiro?expr=aprendiz+tintureiro'>aprendiz de tintureiro, ganhava 5 escudos
por dia.
Entretanto, como o meu tio não tinha grandes condições para eu ficar, fui para uma
pensão no Campo 24 de Agosto?expr=Campo+Agosto'>Campo 24 de Agosto, cujos donos eram uma família de Castelo de Paiva?expr=Castelo+Paiva'>Castelo de Paiva. Lá
pagava 25 escudos por semana, e como ainda tinha de pagar uma coroa para o sindicato,
só me sobrava 4 escudos e 500.
Fui ficando até que tive de ir para a tropa. Quando terminei, o patrão não me voltou a dar
o lugar na fábrica. Foi quando começou a 2ª Guerra Mundial?expr=Guerra+Mundial'>2ª Guerra Mundial, que não nos chegou a
afectar muito.
Então fui para a Fábrica de Chocolates Celeste?expr=Fábrica+Chocolates+Celeste'>Fábrica de Chocolates Celeste, onde o meu irmão era encarregado?expr=encarregado'>encarregado. Lá
fazia o que fosse preciso: carregar chocolates de um lado para o outro, metê-los nas
prensas... Estive lá durante 3 meses, porque o dono da Fábrica dos Guarda-Sóis?expr=Fábrica+dos+Guarda+Sóis'>Fábrica dos Guarda-Sóis, por
intermédio de um primo do meu pai, advogado?expr=advogado'>advogado em Paiva?expr=Paiva'>Paiva, arranjou-me um lugar para a
Fábrica João da Fonseca Carvalho?expr=Fábrica+João+Fonseca+Carvalho'>Fábrica João da Fonseca Carvalho, de tecidos de seda. Ficava ao fundo da Travessa
Fernão de Magalhães?expr=Travessa+Fernão+Magalhães'>Travessa
Fernão de Magalhães. Aqui fui para fiel na madeira, tinha de pesar as lenhas. Eu pesava
e havia lá um velhote que era o virador?expr=virador'>virador que, quando me via ao pé dele já nem fazia nada
com medo que eu aprendesse. Mas ele adoeceu durante 2 meses e quando voltou já o
virador?expr=virador'>virador era eu.
Depois pus-me a pensar, quando ainda estava em Paiva?expr=Paiva'>Paiva tinha lá um conhecido que eu
observava a pegar no ferro, a soldar umas coisinhas... E achei que deveria voltar para
Castelo de Paiva?expr=Castelo+Paiva'>Castelo de Paiva, arranjar uns sócios e abrir um negócio de funileiro?expr=funileiro'>funileiro. Eu tirava os moldes
dos regadores que eram deitados fora e fazia novos. Trabalhava em chapa branca e
caleiras para casas. Fiquei lá durante quase um ano.
Em Março de 1946?expr=Março+1946'>Março de 1946 convidaram-me a regressar ao Porto?expr=Porto'>Porto, para trabalhar na Alumínia?expr=Alumínia'>Alumínia, em
Lordelo do Ouro?expr=Lordelo+Ouro'>Lordelo do Ouro, e eu aceitei. Fui ganhar 27$20 por dia.
Entretanto abriu uma fábrica de alumínio, na Quinta do Gama?expr=Quinta+Gama'>Quinta do Gama no Bonfim?expr=Bonfim'>Bonfim, a Fábrica
Guimarães Guedes?expr=Fábrica+Guimarães+Guedes'>Fábrica
Guimarães Guedes. Por intermédio de um senhor que era da minha terra fizeram-me a
proposta de ir para lá trabalhar, a ganhar mais, e eu fui. Estive ali 3 anos, até chegar à
categoria de encarregado geral?expr=encarregado+geral'>encarregado geral.
Quando abriram uma secção de alumínio na Mário Navega?expr=Mário+Navega'>Mário Navega, o nosso encarregado de
repuxagem?expr=encarregado+repuxagem'>encarregado de
repuxagem foi para lá, mas lá não tinha um homem que fizesse as medidas para as
obras, que era o que eu fazia. Então fui para lá também, entrei em Maio de 1950?expr=Maio+1950'>Maio de 1950 e fiquei
até 1982. Já fui como encarregado?expr=encarregado'>encarregado, a ganhar 35 escudos, a trabalhar das 8h00 às 18h00.
Na Mário Navega?expr=Mário+Navega'>Mário Navega havia refeitório, mas não havia cantina, tínhamos de levar a comida de
casa e aquecê-la lá.
Na Mário Navega?expr=Mário+Navega'>Mário Navega era tudo manual. Tínhamos moldes, a obra vinha das máquinas de
estampar e depois era preciso aparar, brumar,... Fazíamos todo o género de obra, como
trens de cozinha,... Eu lá só mandava, mas se fosse preciso trabalhar também me
agarrava à obra.
Em 1982?expr=1982'>1982 eu vim embora, e passado dois anos a fábrica fechou.
Actividade Social e Política
Quando comecei a trabalhar era obrigado a descontar para o Sindicato dos Têxteis?expr=Sindicato+dos+Têxteis'>Sindicato dos Têxteis. Isso
não nos trazia regalia nenhuma mas éramos obrigados, era a lei de Salazar?expr=Salazar'>Salazar. Quando
mudei para o Sindicato dos Metalúrgicos?expr=Sindicato+dos+Metalúrgicos'>Sindicato dos Metalúrgicos passava-se a mesma coisa, mas os
metalúrgicos já tinham uma Caixa?expr=Caixa'>Caixa que funcionava na Lapa?expr=Lapa'>Lapa, que depois mudou para Santa
Catarina?expr=Santa+Catarina'>Santa
Catarina e ainda depois para Miguel Bombarda?expr=Miguel+Bombarda'>Miguel Bombarda.
Aquando das eleições do Norton de Matos?expr=eleições+Norton+Matos'>eleições do Norton de Matos, andei envolvido na campanha eleitoral, por
Baguim do Monte?expr=Baguim+Monte'>Baguim do Monte, a colar propaganda. Só havia um partido, o do Salazar?expr=Salazar'>Salazar, e havia
também o Movimento Democrático Português?expr=Movimento+Democrático+Português'>Movimento Democrático Português. Só depois do 25 de Abril?expr=Abril'>25 de Abril é que
apareceram os comunistas, os socialistas... Eu era contra o Salazar?expr=Salazar'>Salazar, depois é que me
inscrevi no Partido Socialista?expr=Partido+Socialista'>Partido Socialista. Já venho de uma família de Republicanos, e o meu avô
paterno, o Alfredo Artur Ribeiro?expr=Alfredo+Artur+Ribeiro'>Alfredo Artur Ribeiro, até foi o primeiro Presidente da Câmara de Castelo de
Paiva?expr=Presidente+Câmara+Castelo+Paiva'>Presidente da Câmara de Castelo de
Paiva.
Também estive no Cine-Vitória?expr=Cine+Vitória'>Cine-Vitória, em Rio Tinto?expr=Rio+Tinto'>Rio Tinto, quando apareceu a polícia a bater, para
destroçar. Depois veio o Rui Luís Gomes?expr=Rui+Luís+Gomes'>Rui Luís Gomes, em 1951?expr=1951'>1951, contra o Carmona?expr=Carmona'>Carmona. Na Mário Navega?expr=Mário+Navega'>Mário Navega, mesmo sendo encarregado?expr=encarregado'>encarregado, fui eleito delegado sindical?expr=delegado+sindical'>delegado sindical depois do 25
de Abril?expr=Abril'>25
de Abril. Antes disso não se fazia greves nem nada, porque se o fizéssemos íamos todos
para a PIDE?expr=PIDE'>PIDE. Os outros encarregados?expr=encarregados'>encarregados eram muito maus, tratavam mal os empregados, e
eu nunca fui assim, sempre tratei bem toda a gente. Depois do 25 de Abril?expr=Abril'>25 de Abril, os outros
encarregados?expr=encarregados'>encarregados foram embora da fábrica, fui o único que ficou e fui eleito delegado sindical?expr=delegado+sindical'>delegado sindical. Estou reformado desde 1982?expr=1982'>1982, tenho 74 anos, e ainda não parei.
Mesmo enquanto trabalhava, sempre ajudei os pobres. Aqui distribuímos arroz, açúcar,
roupas, muitas coisas. Sou sócio da colectividade 14 de Março?expr=Março'>14 de Março, que começou com um jogo de futebol nesse dia,
e a partir daí formou-se a associação. Cheguei a ir ao Parlamento do Idoso Português?expr=Parlamento+Idoso+Português'>Parlamento do Idoso Português, a Lisboa?expr=Lisboa'>Lisboa, intervir contra o Cavaco?expr=Cavaco'>Cavaco que
queria obrigar os reformados a ir receber a pensão ao Banco. Dois anos depois voltei lá
para intervir, desta vez queriam que os reformados andassem de autocarro das 9h30 às
16h30.
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